SOBRE (A)TIPICIDADES E (IN)SIGNFICÂNCIAS
DUAS CRÍTICAS AO DESPREZO AO PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Palavras-chave:
Princípio da Insignificância., Súmulas do Superior Tribunal de Justiça., Teoria do Bem Jurídico.Resumo
A presente pesquisa tem por objetivo demonstrar, por meio do estudo das Súmulas 589 e 599 do Superior Tribunal de Justiça, que os argumentos de que se vale este Tribunal para impedir a análise da tipicidade material do fato nos delitos praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas e contra a Administração Pública violam o Princípio da Intervenção Mínima, que tem no Direito Penal o último recurso de intervenção do Estado. Com o encerramento, conclui-se que a direção e as justificativas para o reconhecimento do injusto a partir da incidência das Súmulas 589 e 599 do Superior Tribunal de Justiça consolidam uma latente desorientação jurisprudencial. Primeiro, porque a relevância penal de determinadas condutas é verificada a partir de critérios alinhados tão somente à pessoa do agente, e não ao fato praticado por ele (Direito Penal de Autor). Segundo, porque a tipicidade penal é determinada a partir do contexto em que é praticada a conduta (violência doméstica ou familiar contra a mulher), desprezando-se por completo a lesão (ou mesmo, perigo de lesão) ao bem jurídico declaradamente tutelado (Direito Penal Simbólico). Por fim, constata-se a subversão de bens jurídicos para a promoção de outros bens, alheios aqueles declaradamente tutelados pela norma penal que se reconhece violar. Quanto à metodologia, a fase de investigação denota a utilização do método indutivo, subsidiado por pesquisa bibliográfica e análise de precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
Referências
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007.
BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva. Bem jurídico-penal. São Paulo: Quartier Latin, 2014.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120). v. 1. 26. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2020. Disponível em: https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:719247. Acesso em: 12 abr. 2020.
BRANDÃO, Cláudio. Teoria jurídica do crime. 4. ed. v. 1. Coleção Ciência Criminal Contemporânea. São Paulo: Atlas, 2015.
BRANDÃO, Cláudio. Tipicidade e Interpretação no Direito Penal. Seqüência, Florianópolis, n. 68, p. 59-89, jun. 2014.
BRASIL. Senado Federal. Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/arquivos/violencia-contra-a-mulher-agressoes-cometidas-por-2018ex2019-aumentam-quase-3-vezes-em-8-anos-1. Acesso em: 06 jun. 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgInt no AREsp 758.017/SP, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 09/08/2016, DJe 22/08/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo de instrumento nº 1.105.736/MG, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., j. 07/12/2010, DJe 17/12/2010.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 1.450.696/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 6ª T., j. 05/09/2019, DJe 17/09/2019.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 342.908/DF, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., j. 18/06/2014, DJe 27/06/2014.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 487.715/CE, rel. Min. Gurgel de Faria, 5ª T., j. 18/08/2015, DJe 01/09/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 572.572/PR, rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., j. 08/03/2016, DJe 16/03/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 614.524/MG, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 14/04/2015, DJe 23/04/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 648.194/SP, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 03/03/2016, DJe 14/03/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AREsp 1.585.414/TO, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 19/05/2020, DJe 25/05/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AREsp 535.917/MS, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª T., j. 14/06/2016, DJe 23/06/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Habeas Corpus nº 188.151/SP, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 23/02/2016, DJe 07/03/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no HC 318.849/MS, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 27/10/2015, DJe 16/11/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Recurso Especial nº 1.752.824/SC, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 05/02/2019, DJe 22/02/2019.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 192.242/MG, rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., j. 22/03/2011, DJe 04/04/2011.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 50.863/PE, rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 6ª T., j. 04/04/2006, DJe 26/06/2006.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 274.487/SP, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 05/04/2016, DJe 15/04/2016.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 317.781/MS, rel. Min. Newton Trisotto, 5ª T., j. 06/08/2015, DJe 19/08/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 535.063/SP, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, j. 10/06/2020, DJe 25/08/2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus nº 51.356/SC, rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., j. 03/02/2015, DJe 18/02/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.062.533/RS, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., j. 05/02/2009, DJe 09/03/2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 112.388/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª T., j. 21/08/2012, DJe 13/09/2012.
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral, v.1. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017.
CHAVES JUNIOR, Airto. Além das grades: a paralaxe da violência nas prisões brasileiras. Florianópolis: Tirant to Blanch, 2018.
CHAVES JUNIOR, Airto. O esvaziamento dos critérios teórico-dogmáticos da Intervenção Mínima em matéria penal no Brasil: duas reflexões acerca do abandono do conteúdo material do crime pelos Tribunais Superiores. Revista Católica Law Review, v. III, n. 3, nov. 2019.
CUSSAC, José L. González; BUSATO, Paulo César; CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Compêndio de Direito Penal Brasileiro: parte geral. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017.
DIAS, Jorge Figueiredo. O “Direito Penal do Bem Jurídico” como princípio jurídico-constitucional implícito (à luz da jurisprudência constitucional portuguesa). In: LEITE, Alaor; TEIXEIRA, Adriano (Org.). Crime e Política: corrupção, financiamento irregular de partidos políticos, caixa dois eleitoral e enriquecimento ilícito. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2017.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Juarez Tavares et al. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
GOMES, Luiz Flávio. Infração bagatelar imprópria. Revista MPMG Jurídico, ano II, n. 6, jul.-set., 2006.
GRECO, Luís. Tem futuro a teoria do bem jurídico? Reflexões a partir da decisão do Tribunal Constitucional Alemão a respeito do crime de incesto (§173 Strafgesetzbuch). Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, ano 18, n. 82, jan-fev, 2010.
HASSEMER, Winfried. Introdução aos fundamentos do Direito Penal. Tradução de Pablo Rodrigo Alflen da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 2005.
HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidade: bases para uma teoria de la imputación em derecho penal. Tradução de Francisco Muñoz Conde e María del Mar Díaz Pita. Colombia: Editorial Temis S. A., 1999.
HASSEMER, Winfried. Perspectivas de uma moderna política criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 2, n. 8, p. 41-51, out./dez. 1994.
JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Derecho penal del enemigo. 2. ed. Navarra: Editorial Aranzadi SA, 2006.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción al derecho penal. Montevideo: Editora B de F Ltda., 2001.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Protección de bienes jurídicos como límite constitucional del Derecho penal. In: OLIVARES, Gonzalo Quintero; PRATS, Fermín Morales (Coord.). El nuevo derecho penal español. Estudios penales en memoria del profesor José Manuel Valle Muñiz. Navarra: Aranzadi Editorial, 2001.
PEREIRA, Maria Margarida Silva, Bens Jurídicos Colectivos e Bens Jurídicos Políticos, Portugal: Coimbra Editora, 2003.
PRADO, Luiz Regis. Tratado de direito penal brasileiro: parte geral, volume 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. E-book. Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99912965/v2. Acesso em: 17 jun. 2020.
QUEIROZ, Paulo. Direito penal: parte geral. v. 1. 14. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2020.
ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. Tradução de André Luís Callegari e Nereu José Giacomolli. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013.
ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Tradução de Luís Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
ROXIN, Claus. Política criminal y sistema del derecho penal. Tradução de Francisco Muñoz Conde. 2. ed. 1. reimpr. Buenos Aires: Hammurabi, 2002.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 5. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012.
TAVARES, Juarez. Critérios de seleção de crimes e comunicação de penas. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda. Número especial de lançamento, 1992.
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
TAVARES, Juarez. Teoria do injusto penal. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: DelRey, 2002.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. v. 1. 7. ed. rev. e atual. 2. tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Com relação aos direitos autorais, esses pertencem aos autores e à RDF. Os interessados em publicar deverão estar, ainda, cientes de que a presente revista é um periódico de acesso livre e gratuito, que pretende criar, além da oportunidade de publicação para autores, a democratização do saber, promovendo, assim, inclusão social e cultural.